Quem passa pela rua Dr. Arnaldo Brandão, do bairro São Francisco, sempre acaba tendo a atenção atraída para a casa de número 503. Diferente de qualquer outra casa da rua – e de qualquer casa no geral – essa tem um avião “pousado” no telhado.

E não se trata de um modelo qualquer, mas sim de uma réplica em concreto de um Concorde, fabricado entre 1965 e 1978, e um dos dois únicos aviões supersônicos a operar comercialmente (o outro foi o soviético Tupolev Tu-144). A aeronave era capaz de comportar de 90 a 120 passageiros, e de alcançar 2.179 km/h quando em velocidade máxima, pouco acima de Mach 2.

O modelo F-BVFC da Air France foi a inspiração para o Concorde de Boa Vista.

A casa, e a autoria da obra, pertencem a Sinval de Freitas Oliveira, um paraibano de 82 anos, que veio de São Paulo para Roraima e iniciou a construção da sua casa há mais de 30 anos. Apesar de só ter educação formal até a 6ª série, é um homem inteligente e orgulhoso do seu projeto.

O encanto pelo Concorde começou em 1976, ano do primeiro voo comercial do modelo. Na época, Sinval tinha 38 anos. Ele diz que a paixão foi tanta que jurou pra si mesmo que pilotaria a aeronave um dia. Esse sonho ele não conseguiu realizar, já que, com apenas 20 unidades produzidas, o Concorde deixou de voar em outubro de 2003, 3 anos após o acidente que matou 113 passageiros em um voo da Air France.

Sinval foca agora em terminar a casa, e usa a maior parte do dinheiro que ganha da aposentadoria e de bicos para comprar os materiais que precisa para terminar a construção. Além do avião no telhado de toda a estrutura, a frente da casa possui grades que remetem a asas de pássaros e aviões. Até mesmo uma garagem subterrânea para quatro carros foi construída, mas está atolada de materiais de construção.

A casa foi projetada para viver com a família. A ex-esposa e os quatro filhos ajudaram na construção, como serventes e pedreiros. Mas houve uma cisão na família, e hoje a casa é ocupada apenas por Sinval. E apesar da aparência de abandono, ele diz que continua a construção sozinho, em busca de realizar o último sonho.

Sinval de Freitas Oliveira, 82 anos, cego de um olho e com problemas de audição. Mas firme no sonho.