Criado em 1971 pela dupla Len Wein e Bernie Wrightson, o Monstro do Pântano é um personagem da DC Comics relativamente obscuro aqui no Brasil que frequentemente mistura horror e ecocrítica em suas histórias, mas é nas mãos da lenda dos quadrinhos, Alan Moore, que se torna o primeiro e um dos melhores títulos de HQ’s para adultos da História.

Em A Saga do Monstro do Pântano, originalmente publicada a partir de 1984, Moore criou uma obra de arte em quadrinhos, pois elevou a atmosfera de horror original do título ao mesmo tempo em que humanizou a criatura – criando uma tendência de abordagem de personagens mais dramática, até então inédita no formato – além, de conceber toda uma mitologia em torno do híbrido de homem e planta.

Em 2014, a Panini relançou a série em 6 volumes, 5 dos quais ainda podem ser facilmente adquiridos em sites especializados. Adivinha qual era o que não se encontrava mais (somente a preços exorbitantes)? Sim, o Volume 1, que não encontrei nem no stand da Comix na Bienal de São Paulo em 2016, então dá pra imaginar minha alegria em encontrar um exemplar aqui mesmo nas bancas de Manaus.

Depois de dois anos à procura desse bendito, FINALMENTE a Panini decide realizar um segundo relançamento, trazendo novamente os dilemas existenciais e os conflitos sangrentos do deus dos pântanos, que, ao longo desses seis volumes, lida com a relação conflituosa entre o ser humano e a natureza e com a intervenção diabólica de vários personagens sobrenaturais do universo DC, tais como Jason Woodrue, o vilão do Batman também conhecido como Homem Florônico, o demônio Etrigan e o mago John Constantine – que inclusive faz sua estreia ao longo da saga.

Aos que estão pouco familiarizados com o título, é uma boa oportunidade de conhecer o personagem e apreciar histórias que fogem um pouco da dinâmica tradicional de super-heróis – coisa que o Monstro do Pântano não é. Estamos falando de um deus, uma criatura escolhida para representar toda a vida vegetal do planeta e que ainda sonha com os dias em que era apenas um homem, o cientista Alec Holland. Entender seu papel nesse universo brutal é o que move o Monstro do Pântano, e acompanhar essa jornada chega a ser mais interessante do que as clássicas batalhas entre vilão e mocinho.

Enquanto amazonense, ler o Monstro do Pântano também me faz rever aquelas histórias fantásticas de nosso imaginário, sobre criaturas sinistras que habitam nossas florestas e que também dependem do frágil equilíbrio entre homem e natureza – inclusive, o Parlamento das Árvores, ordem de entidades vegetais que encarregou o Monstro de toda a vegetação na Terra, fica em Tefé, no interior do estado do Amazonas, fato que inclusive foi justificado por Moore em uma entrevista exclusiva que saiu aqui no site uns anos atrás. Em visita ao município, é impossível não encarar as margens do rio Solimões à procura de um vislumbre de Holland.

Monstro do Pântano no jogo Injustice 2

Deu interesse? Se títulos como Watchmen, V de Vingança e Hellblazer nos ensinaram algo, é que no trabalho de Alan Moore, nós podemos confiar.