Sinopse: o mundo não é mais nosso. Monstros que se alimentam de humanos chegaram misteriosamente e dominaram tudo. Uma década depois da invasão, as poucas pessoas que restaram lutam para sobreviver em uma terra devastada. Entre elas está Pilar, uma mulher que assumiu a responsabilidade de cuidar de Sara, uma garota órfã, e acompanhá-la em uma longa e perigosa jornada até seu único familiar vivo.

Ogiva é o primeiro quadrinho de Bruno Zago, um dos cofundadores do canal e editora Pipoca & Nanquim. Nessa jornada de produção da HQ Ogiva, Bruno contou com a parceria do já experiente Guilherme Petreca, com as letras e diagramação do talentosíssimo Arion Wu e com a equipe de edição da editora.

Vou começar com aquele que acho ser o principal problema de Ogiva, justamente a primeira informação que apresentei acima: esse é o trabalho de estreia do roteirista Bruno. Enquanto a edição esbanja o que o PN sabe fazer de melhor (e vou já chegar lá) o roteiro peca por, na minha opinião, falta de experiência com a narrativa. Mas não se engane, isso não deixa a obra ruim. O desenvolvimento das relações está lá, a jornada do herói e as ferramentas narrativas que geram empatia com as personagens também. Tá tudo lá. Mas falta uma pitada de algo e eu diria que é chão. Artistas demoram para chegar na maturidade de sua produção e isso é completamente normal.

Outras pequenas coisas me incomodaram. Em momentos pontuais da HQ o texto de algumas personagens soa pouco natural e didático demais. Além disso, o uso de expressões em inglês no meio da ação não ajuda. Algumas atitudes, sobretudo as da Pilar, também parecem pouco verossímeis, mas a aplicação de certas ferramentas narrativas vai melhorando a trama e o carisma surge quando menos se espera.

Tem pieguice, tem clichê, mas eu diria que esses são os maiores acertos do roteiro. Houve uma escolha, a de não tentar “inventar a roda” num trabalho de estreia, e deu certo. Se tem algo que o roteiro faz bem é unir conceitos criados em outras histórias consagradas da cultura pop num caldeirão narrativo honesto e simples o bastante para não soar confuso ou pretensioso. É notável, apesar dos problemas, que Bruno Zago entregue um roteiro bem amarrado e coeso na sua primeira obra publicada. Isso mostra que houve uma preocupação com leitura crítica e com o processo de refinar o roteiro até chegar à versão final.

Apesar das críticas com relação ao seu desempenho nas cenas de ação, Guilherme Petreca está em sua melhor forma. Com um traço bem estilizado, o artista apresenta um mundo bastante palpável e a sensação é a de que estamos assistindo The Walking Dead com monstros lovecraftianos numa atmosfera árida, que cheira a morte e desespero. Para um leitor mais acostumado com os comics e a padronização do traço “realista”, a estilização de Petreca pode parecer falta de técnica, mas eu garanto que não é. Falta sim, um pouco de habilidade ao desenhar a extensa cena de perseguição entre veículos, mas que em nada atrapalha o desenvolvimento da história.

Longe de ser “só mais um quadrinho” para o Bruno editor, vemos em Ogiva que a Pipoca & Nanquim leva a sério a qualidade gráfica de cada peça do seu catálogo. O álbum tem excelente impressão e acabamento e o trabalho do letrista Arion Wu é um dos pontos altos do projeto gráfico. A promoção do lançamento, com a assinatura de bookplates pelos dois artistas e a série de vídeos no canal da PN sobre a produção da obra, só confirmam a fama da editora no tratamento das suas HQs.

A arte de Petreca me fez querer vê-lo produzindo mais um terror ou suspense policial, quem sabe, já Bruno Zago foi uma grata surpresa e me deixou curioso para saber o que mais uns dois quadrinhos fariam com sua capacidade de contar histórias. Ogiva é divertido, bonito, bem editado e merece ser conferido, principalmente se você é fã do cenário nacional.

Classificação:

Avaliação: 3.5 de 5.

CRIAÇÃO E ROTEIRO: Bruno Zago
ARTE: Guilherme Petreca
LETRAS E DIAGRAMAÇÃO: Arion Wu
PÁGINAS: 211