Assim como muitos garotos que jogam League of Legends, Alexandre “Titan” Lima sonhava em ser um jogador profissional, só que, mesmo mostrando potencial e ganhando competições, ele enfrentava um problema geográfico. Tal qual aquele Super Nintendo dos anos 90 ou mesmo o atual PS4, Titan foi “Produzido na Zona Franca de Manaus”, morando no distante Estado do Amazonas.

Porém, a sorte sorriu para ele quando foi chamado pela KaBuM! eSports para substituir o mid laner Guilherme “Vash” Del Buono. Ele saiu às presas da capital amazonense (a primeira vez que fazia uma viagem para fora do Estado) para completar a equipe nas duas últimas partidas do 1º Split do CBLoL 2017.

Titan foi o centro das atenções não só por vir de tão longe, mas também por fazer história sendo o jogador mais jovem a competir no torneio da Riot. Ele tem apenas 16 anos e ainda está no 1º ano do ensino médio.

A pergunta que fica é: afinal, como alguém tão jovem e estando do outro lado do país chegou a uma equipe como a KaBum!? “Eu tinha um desempenho muito bom na solo queue, jogava quase 15 partidas por dia e algumas pessoas começaram a ficar de olho”, fala Titan em entrevista ao XLG. “Tinha um amigo também que conhecia o Riyev [suporte da KaBum!], ele me mencionou e foi assim que me chamaram”.

A KaBum! listou Titan como um dos seus reservas para o 1º Split do CBLoL, mas o jogador sabia que seria difícil chegar a atuar pelo time. Por isso, pensou em pedir dispensa para tentar a sorte na challenge series, foi quando veio o chamado para entrar como titular do time.

“Eu quis vir por causa da emoção de estar aqui, jogar com esse ping [com a internet de Manaus, ele jogava com ping de 65ms, o que afetava muito o desempenho do jogo], e x5 juntos é completamente diferente.”

Titan com Turtle, da INTZ

Uma crise titânica

Titan estava realizando o sonho de jogar no CBLoL, mas ele chegou à KaBum com a equipe em crise. A organização é acusada de oferecer má estrutura para os jogadores, uma gaming house improvisada, sem um técnico após a demissão de Vinicius “Neki” Ghilardi e perigando ser rebaixada por estar lá em baixo na tabela de classificação.

Toda essa pressão e o nervosismo, claro, afetaram muito a estreia do jogador contra a Remo Brave, principalmente no primeiro jogo, mas, ainda assim, ele conseguiu ajudar a equipe a empatar a série.

Já no jogo desse último fim de semana, contra a INTZ, Titan diz que estava bem mais relaxado, muito por causa dos companheiros de equipe, que o ajudaram a controlar a emoção e ter mais confiança no próprio jogo, mas dessa vez foram a falta de experiência e entrosamento com o time que pesou para a derrota de 2 x 0. “Em uma semana a gente não treinou o suficiente, se treinou foram só dois dias”, fala o jogador.

Com as duas séries em que participou do CBLoL, Titan tem um AMA de 1, com 18 abates, 23 mortes e 6 assistências no total. A semana entre os jogos, pelo menos, certamente foi a melhor que ele teve nos seus 16 anos de vida, ao finalmente ver o seu sonho virar realidade e também por aprender tanto profissionalmente. “O que valeu mais foi a amizade que todos têm e isso ajuda bastante no seu desempenho, eles conversam contigo e vão passando a experiência que eles têm”, relata.

A KaBum! Conseguiu escapar do rebaixamento direto para o circuito desafiante, mas por ter ficado em penúltimo na fase classificatória do 1º Split, ainda precisa passar pela série de promoção para continuar no 2º Split do CBLoL.  Após passar por essa experiência no time, Titan fica ou volta pra Manaus? “A resposta depende mais do que vai acontecer daqui pra frente… mas vou ficar sim”, reponde Titan.

Titan pai, Titan filho

Titan não saiu de Manaus sozinho. Ele veio junto do maior fã: o pai Alexandre Oliveira, que sempre incentivou e acompanhou Titan nas jogatinas, desde a época em que jogavam Dota 1 juntos e faziam pequenas competições internas. Logo o pai percebeu as habilidades do filho e o empenho dele em sempre melhorar no game. “Eu dou esse apoio porque eu sei que é o sonho dele, é o futuro que ele escolheu, então eu tenho que apoiar aquilo que ele gosta como profissão, de ser um cyber atleta”, diz.

Na verdade, o pai é quem é o Titan original, já que foi ele quem criou o nick quando jogava LoL em uma conta americana, antes do Moba da Riot chegar ao Brasil. O Titan pai fala que, quando migrou para a conta brasileira, a passou para o filho continuar o legado. “Como ele participou de uns campeonatos e adquiriu vitórias, [o Titan] acabou ficando pra ele”.

A trajetória do amazonense, que enfrentava uma internet precária e um clima nem um pouco agradável (Manaus possui temperaturas que ficam acima dos 30º Celsius a maior parte do ano) para jogar o seu Lolzinho, mostram que com perseverança e, por que não, um pouquinho de sorte, é possível chegar à elite do principal campeonato de eSports do Brasil.

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Publicado originalmente em XLG Uol