“Com grandes poderes vem grandes….”

Não ouse terminar essa frase! Eu já estou cansado dela!” – Diz um Peter Parker quarentão e com sobrepeso para um jovem altruísta Miles Morales, pretendente ao cargo de novo ”amigão da vizinhança” também por um infeliz acidente com uma picada de aranha modificada geneticamente (ou radioativa) dependendo da dimensão que estamos falando.

Só por esse diálogo já temos uma ideia do quão diferente é essa nova aventura aracnídea do nosso cabeça-de-teia favorito. Homem-Aranha no Aranha-verso não é, dessa vez, uma aventura exclusiva de Peter Parker.

Cai sobre os ombros de Miles, um rapaz com ascendência latino-hispânica que, contando com um pai rígido mas amoroso e uma mãe atenciosa e encorajadora em momentos precisos, consegue uma vaga no prestigiado colégio Visions onde começa a sua imprevisível jornada para se tornar o novo “Omaranha”.

Miles a princípio não foge do esterótipo dos garotos comuns de sua idade; Seu crescente interesse por garotas o coloca em situações às vezes vexatórias; seu desejo por inclusão na nova escola reflete sua dificuldade de adaptação, comum à “novatos” e suas referências de inspiração são justamente aquelas que lhe estimulam a expressar seus gostos e dons para arte, no caso, seu Tio Aaron com grafite.

Com tentativas de se desvencilhar do mundo ao qual acredita que não pertence (Miles é igualmente brilhante e inteligente como Peter, contudo quer voltar pra sua antiga escola no Brooklyn) Miles busca conforto e estímulo na companhia do Tio que lhe dá momentos de respiro da pressão diária dos estudos e da correria puxada do ensino de sua nova escola.

É nesse ambiente que Miles conhece “Gwaanda” (Gwen Stacey para os chegados) que o leva a acreditar que “está na dele” (no melhor estilo “cara, ela tá tão na sua”) sem imaginar que em breve eles teriam muito mais comum do que apenas a convivência na mesma escola.

Pera um minuto, mas Gwen Stacey não era uma das namoradinhas de Peter no colegial? Sim! Mas e aí que entra o Aranha-Verso do título do filme

*A partir daqui começam os spoilers! Se você ainda não viu o filme, corre logo pro cinema!*

No Universo de Miles, Peter já atua como Homem-Aranha há 10 anos.

Amado por uns, detestado por outros (como o pai de Miles que é policial e acredita que este faz o serviço deles) Peter passa seus dias se balançando pelos bairros e prédios da Big Apple combatendo o crime e salvando o dia. Já casado com Mary Jane, Peter descobre o último plano maquiavélico do Rei do Crime que pretende ligar um colisor de partículas que pode alterar a dimensão de Miles com várias outras desconhecidas (ainda que por uma causa “nobre”, mas que não deixa de ser um plano maluco de um vilão egoísta).

Caindo em combate, Peter é morto pelo Rei do Crime deixando a Miles a missão de destruir o colisor que promete que iria fazê-lo.

É a partir daí que o filme ganha novos contornos e aprofunda Miles como um personagem interessante, altruísta e digno de ser um novo Homem-Aranha.

Miles carrega consigo não só o fardo de ter que substituir Peter, mas também o de não estar preparado como esse estava para enfrentar as situações adversas que a vida de um super-herói exige. É nesse contexto que um novo Peter Parker (novo entre aspas, pois ele está velho e cansado, já atuando como Homem-Aranha há 20 anos) surge sem saber como foi parar na dimensão de Miles e, após este lhe explicar os eventos que o trouxeram para aquela dimensão, decide treinar o garoto ainda que relutantemente.

Surge então várias versões do Aranha, incluindo aí Gwen Stacey que veio de uma dimensão onde Peter morreu e ela assumiu a máscara; O Homem-Aranha Noir saído de história detetivescas dos anos 30; Peter Porker (ou Porco-Aranha, sim, ele existe!) e Peni Parker, uma clara homenagem à cultura oriental dos animes. Todos com origem similar à de Miles e Peter, contudo muito mais experientes no combate ao crime e vilania.

Se 6 homem-aranhas em tela é ótimo, o mesmo pode-se dizer da inovação do filme ao trazer um misto de 2D com 3D que é um deslumbre visual fazendo referências direta aos quadrinhos em transição e enquadramentos (um bom exemplo é Papermanda Disney, curta que usa a mesma tecnologia) nos jogando ao que poderia ser chamado de primeiro quadrinho animado (eu sei, uma afirmação um tanto injusta, sendo que existe sim outros exemplos notáveis).

Contudo, Homem-Aranha no Aranhaverso se destaca não só pelos personagens cativantes ou pela nova história ou pela maneira que animação foi desenvolvida, mas também por atualizar de maneira inventiva das condições que levam uma pessoa comum a se tornar um herói, sem necessariamente ter super-poderes. “Qualquer um pode usar a máscara!” – Diz um certo personagem em determinado momento (que com certeza levará os fãs mais emotivos à lágrimas), basta a pessoa querer fazer bem apenas por fazer.

Com um gancho para sequência sem necessariamente exigir isso, Homem-Aranha no Aranhaverso é uma divertida atualização do personagem que prova que ainda tem muito mais a ensinar sem esquecer seu legado principal, passando para uma nova geração tudo aquilo que levou seus fãs a adorarem o amigão da vizinhança.

Nesse a Sony mirou a teia e acertou de primeira, pode vir a sequência que já estou pronto!