O filho de Charles Xavier, um vilão que não é o Magneto, uma abordagem nada convencional ao retratar doenças mentais, uma trama que se mantém instigante até o fim. É isso que nos traz Legion, série de apenas oito episódios baseada no universo dos X-men lançada no início de 2017, dirigida por Noah Hawley (Fargo, Bones).

Ao ser anunciada, a série foi recebida com um tanto de pessimismo: trazer ao live-action um personagem conhecido apenas pelos fãs mais dedicados dos X-men era uma escolha arriscada, mas depois do lançamento de Deadpool (2016), a Fox parece ter percebido que riscos podem compensar.

No piloto, somos apresentados a David Haller (Dan Stevens, de A Bela e a Fera), um jovem atormentado por um caso grave de esquizofrenia. Após uma tentativa de suicídio, ele acaba internado no Instituto ClockWork (olha a referência) para tratamento, e é por meio dele que acompanhamos a narrativa. Um dos maiores méritos da série (senão o maior) é nos fazer ver o mundo de Legion pela visão psicodélica de David, um espetáculo visual baseado em elementos dos anos 1960 que pode ser comparado facilmente à uma viagem de LSD.

Uma coisa que sempre gosto de destacar quando faço este tipo de texto é como as mais recentes séries e filmes de super-heróis tentam dar nova vida a um gênero que o grande público insiste em rotular de “saturado”, “gasto”, e ao nos agraciar com uma estética tão absurda quanto seus personagens, Legion realmente se destaca como uma das melhores séries do ano, e não só de super-herói.

A luta de David contra o que ele supõe ser esquizofrenia é algo palpável, por vezes desconfortável, marcada sempre pela aparição do que ele chama de O Demônio de Olhos Amarelos, uma criatura que assombra suas crises e consegue ser perturbadora. Em uma de suas aparições mais icônicas, temos uma sequência digna de um filme de terror genuíno. A identidade real do vilão é um plot twist que os fãs se esforçaram para prever, e que se provou digna de uma temporada inteira nos preparando para esse momento.

Uma busca rápida no Wikipedia deixa claro que David é filho de Charles Xavier (o que não implica em nenhum spoiler para a série), mas diferente de seu pai, apresenta uma gama quase infinita de poderes, que incluem telepatia, telecinese, teleporte, pirocinese, projeção astral e o que raios der na cabeça do cara, além de ter que lidar com a esquizofrenia, e é impressionante como a série aposta nessa aleatoriedade de poderes para transformar David não em um mutante overpower, mas em um jovem atormentado, desesperado pelo apoio que encontra em sua namorada Syd (Rachel Keller), uma mutante que não pode ser tocada (à la Vampira) e em Lenny Busker (GLORIOSAMENTE interpretada por Aubrey Plaza, mais um motivo para ser arrebatado pela série), uma amiga que esconde intenções bem ambíguas com relação à David.

Disponível no streaming da Amazon e exibida pelo FX, a série já conta com uma 2ª temporada a ser lançada em 2018, e é uma fucking sugestão para quem procura algo para maratonar nas férias (o mapingua Ayrton também fez um post bem recheado para quem precisar de mais).

Já assistiu à série? Sabe dizer se é possível desfazer sopa? Diz o que achou nos comentários.