Atenção: Contém Spoilers


O enredo dos episódios de Power Rangers sempre seguia uma estrutura básica que deleitava milhares de fãs (inclusive este que vos escreve) que, à primeira vista, não seria nada difícil de se adaptar.

Ledo engano, pois hoje vivemos na geração smart. Se nos anos 90 um comunicador de pulso parecia ser um tipo de tecnologia sensacional, hoje dificilmente uma criança de 12 anos se impressionaria com isso, tendo qualquer aparelho celular com whatsapp, podendo fazer transmissões ao vivo.

Como o árduo trabalho de apresentar os rangers originais, com uma nova abordagem, para uma nova geração ao mesmo tempo em que saúda os fãs antigos, Power Rangers acerta o tom ao trazer jovens mais verossímeis do que os certinhos e descolados do seriado original. Se na primeira versão tínhamos jovens “cools” engajados com o meio ambiente, esportes e causas sociais, neste temos o clássico “jovens metidos em problemas” que precisam se acertar para combater um mal maior, no caso, a vilã Rita Repulsa que pretende mais que apenas destruir o lar dos heróis, a Alameda dos Anjos (palco de batalha de monstros e robôs gigantes que de forma mágica sempre aparecia reconstruída no episódio seguinte).

E nesse aspecto, o filme ganha pontos por dar uma profundidade maior ao heróis que até então não passavam de estereótipos dos estereótipos e isso se deve principalmente à escolha do elenco, que consegue definir a individualidade de cada um sem cair na faceta genérica de suas contrapartes originais.

Não que o filme não tenha furos no roteiro (E tem! vários!) mas essa construção se faz necessária para que o grande público assimile quem são os Power Rangers e não apenas o quê eles são. Se no seriado a amizade era supérflua e “forçada”, nesta adaptação temos até algumas boas justificativas para o trabalho em equipe e a importância que um tem para o outro, sem parecer exageradamente caricato.

E se o filme passa boa parte de seu tempo desenvolvendo os personagens, é um pouco desanimador que a vilã Rita Repulsa não seja desenvolvida da mesma maneira.

“Tá bom, Natan, mas é um filme pipoca com foco nas crianças e adolescentes, tu queria o quê?” 

Eu queria uma vilã à altura do desenvolvimento dos heróis! A impressão que dá é que Rita só está ali para ser má, para ser a vilã. Suas motivações nunca são exploradas de maneira satisfatória (mas Natan…), mas tenho certeza que o filme ganharia mais se explorasse mais a personagem aprofundando sua história.

Por exemplo, em vários momentos achei que ela iria entregar algum “podre” de Zordon, o que seria ótimo para o desenvolvimento do personagem também, mas não… Ela só quer o Cristal Zeo para destruir o planeta.

Em geral, este é um dos pecados de Power Rangers, ao dar dois passos para frente e um para trás como no caso da construção dessa vilã…

Claro, há também os seus momentos de brilho, como Jason discutindo com Zordon (o pequeno Natan de 7 anos nunca iria imaginar uma coisa dessas!)  e as características dos personagens exploradas por um novo viés (a sacada do autismo de Billy faz todo sentido se considerar o original), mas a partir do momento em que eles se tornam Rangers efetivamente, as coisas perdem um pouco o rumo (sério mesmo que eles aprenderam a pilotar os Zords de uma hora para outra?). 

Pisando em ovos, tentando reconquistar um público já adulto e amadurecido, adaptando algumas novidades para uma geração mais exigente e menos atenciosa, Power Rangers dá dois passos para frente e um para trás em sua nova faceta, tentando deixar claro que já é algo sério, mas sem saber exatamente quando mostrar essa seriedade sem perder a leveza que conquistou muitas crianças nas manhãs da tv globo.

Pelo menos, quem vibrava com a música Go Go Power Rangers vai vibrar mais uma vez.

Nota 3/5.


Esta publicação foi enviada por um leitor.
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