Olá, caros leitores!

Hoje inicio por aqui uma série para falar do cenário de quadrinhos da região Norte. Teremos, entre outras coisas, conversas sobre as produções dos estados, entrevistas com vários artistas e reflexões sobre os desafios do artista nortista. Vamos começar falando do cenário independente atual de Manaus, capital do Amazonas e casa deste que vos escreve.

O cenário manauara não é grande nem possui uma tradição tão extensa de produção, mas sobre este histórico falaremos mais em outra coluna da série. O importante agora é dizer que desde os anos 90 as produções por aqui eram pouquíssimas. O cenário independente se resumia a alguns artistas produzindo fanzines e quase nenhuma graphic novel ou trabalho de maior vulto.

Sete Cores da Amazônia – Ademar Vieira e Tieê Santos

Aliás, vale dizer também que o cenário é basicamente independente em Manaus. Poucos artistas publicam, já que não há editoras baseadas na cidade. Inclusive, um dos poucos trabalhos que entraram no “mainstream” foi o livro “Clube dos Quadrinheiros – As Melhores Histórias”, publicado pela editora Valer em parceria com a Editora da Universidade Federal do Amazonas, em 2005.

Recentemente, Manaus vive o que costumo chamar de um “boom” na sua produção. De 2018 para cá as realizações foram muitas. O coletivo Ajuri, encabeçado pelo produtor cultural Evaldo Vasconcelos, conseguiu apoio da Secretaria de Cultura de Estado para a produção de uma revista e o aluguel de um stand no FIQ (Festival Internacional de Quadrinhos) de 2018. Muitos coletivos e estúdios surgiram desde então e as publicações independentes se multiplicaram.

Além do Ajuri e do Black Eye, temos o Studio C4, o MáTinta, o Ilustrama e dezenas de artistas que, além de transitar entre os coletivos, também possuem seus projetos autorais com lançamentos esporádicos.

Outro ponto importante é a criação de uma cultura de consumo desse material produzido pelos artistas locais. Isso vem sendo bem explorado por meio da execução de eventos na cidade. Entre os principais podemos citar o “Quadrinhos no Largo“, liderado pelo Estúdio Black Eye e o “Dia do Quadrinho Nacional“, organizado por Evaldo, citado anteriormente.

Ambos os eventos seguem um modelo de feira, parecido com o utilizado pelo FIQ, dinâmico e intimista. Isso ajuda na aproximação com o público cativo e na busca de aumentar o contingente de consumidores, em parte porque ocorrem no Largo São Sebastião, ao lado do Teatro Amazonas, um dos principais cartões postais da cidade.

Esse “boom” mudou tudo para o quadrinista manauara. Hoje a régua da qualidade subiu bastante e as grapich novels são uma realidade. É o caso de “A Última Flecha”, hq de Emerson Medina e Romahs Mascarenhas (indicada para o prêmio nacional ABERST), e também de “Amazônidas” do estúdio “All Geek Comics”.

Mas, se o cenário independente nacional se apoia em bases frágeis, então o nosso apresenta colunas de areia. A pandemia já afeta esse crescimento e mostrou que sem os eventos com venda direta, o cenário fica estagnado. Parte dessas bases também depende de atores centrais, como os principais estúdios e coletivos e o apoio do Estado por meio de editais públicos.

O futuro é muito incerto para a nona arte na cidade de Manaus, mas temos um bom cenário, com grandes talentos e um potencial cultural inestimável. Precisamos dos mesmos estímulos que o resto do cenário precisa, mas numa escala menor. Portanto, faça sua parte e ajude o quadrinho independente.

Até a próxima!