Desde o agravamento da pandemia do novo Coronavírus, os embates nos campos ideológico e social envolvendo ética, cuidados com a saúde e políticas públicas do Estado têm movimentado a internet.

Neste contexto, o jornalista e quadrinista Ademar Vieira publicou uma tira em quadrinhos em seu Instagram, intitulada “Pandemias”. Ela viralizou e rendeu ao autor mais de 20 mil novos seguidores em seu perfil e um alcance gigantesco.

Ademar falou com o Mapingua Nerd com exclusividade sobre este momento da sua carreira e sobre as expectativas após o sucesso nas redes sociais.

Ademar já trabalhava com quadrinhos no Black Eye Estúdio, de Manaus, e publicava algumas tirinhas em seu perfil do Instagram. Mas, apesar da presença nas redes, ele conta que a repercussão foi uma surpresa.

“Foi tudo uma surpresa. Eu comecei a fazer tirinhas durante um difícil processo de separação. Eu não estava bem e senti necessidade de exorcizar o que eu estava sentindo por meio da arte e comecei com a tirinha “Vazio”. Para minha surpresa, ela teve uma repercussão maior do que eu esperava e as pessoas começaram a pedir outra. Então, fiz a “Só quero que você fique bem” e aí foi o choque maior, porque as pessoas começaram a comentar que haviam chorado com a tirinha. A partir daí, vi que eu não podia mais parar e mesmo após ter conseguido superar a minha fase difícil, comecei a ver outros assuntos para tratar e a coisa foi só aumentando até acontecer esse fenômeno que foi a tirinha ‘Pandemias’.”

O quadrinista revela que o episódio mudou completamente sua relação com o Instagram, antes um espaço pessoal onde costumava postar o que “vinha na cabeça”. Agora, com a entrada de mais de 20 mil seguidores de vários países diferentes, sua atuação na rede precisou tomar um ar mais profissional e responsável com o conteúdo publicado.

“’Pandemias’ foi repostada dos Estados Unidos à Patagônia e em alguns países da Europa. Eu não conseguia acreditar no tamanho da repercussão e muita gente repostou sem os devidos créditos, o que me deixou chateado. Agora estou mais cauteloso com o que publicar, para evitar problemas e também decidi assinar as tirinhas com uma marca d’água daqui para frente.”   

Ele fala ainda dos temas mais comuns em sua produção, como seus questionamentos e impressões de coisas que rodeavam seu dia a dia. Com a pandemia seu olhar se voltou também para as questões sociais que ficaram evidentes.

“Antes da pandemia eu estava basicamente falando de coisas que estavam acontecendo comigo e coisas que eu percebia ao meu redor, mas com o início da quarentena não pude deixar de abordar o assunto da Covid-19 e todas as questões que surgiram com ela, que estão sendo inclusive, usadas politicamente para dividir a população mais uma vez. Acredito que devo continuar tirando as inspirações da realidade, das coisas que me inquietam, me entristecem ou me indignam. Fazer arte é uma boa forma de discutir assuntos ‘espinhudos’.”

Quando perguntado sobre como sua produção poderá ser afetada pelo fenômeno da tirinha viralizada, Ademar afirma que ainda está entendendo o momento e planejando suas próximas tiras.

“Não tenho planos muito elaborados, pretendo continuar com as tirinhas, porque agora tenho um público considerável que está esperando por mais obras como ‘Pandemias’. Vou continuar esse trabalho e vamos ver o que mais pode acontecer.”

“Sete cores da Amazônia” – Black Eye Estúdio

Ademar Vieira é jornalista formado pela Universidade Federal do Amazonas e atualmente trabalha como roteirista de conteúdo audiovisual na empresa Petit Fabrik, que tem como principal produto o desenho animado “Lupita no Planeta de Gente Grande”. Sua história com as hqs começou em 1998 na revista Hypercomix, onde fazia roteiros de paródias de animes conhecidos. Em 2018, lançou na Bienal de Quadrinhos de Curitiba, pelo estúdio Black Eye, o título Sete Cores da Amazônia, em parceria com o ilustrador Tiê Santos e em 2019, lançou A Maldição do Governador, roteirizada e desenhada por ele. Atualmente, trabalha no título Ajuricaba, projeto ganhador do edital Conexões da Prefeitura de Manaus e previsto para ser lançado até o fim de 2020.