Junho começou e para quem é fã de futebol, a Copa é o maior dos eventos, mas para quem é fã de games, a E3 (Eletronic Entertainment Expo) é o maior evento, portanto, para quem é apaixonado pelos dois (como eu) e gosta de festa junina, provavelmente será o melhor mês do ano. A E3 acontece de 12 a 14 de junho, mas as grandes novidades se concentram antes, nas conferências das principais empresas, anunciando jogos de uma forma que nos enchem de expectativa.

Datas das Conferências
(Horários de Manaus)

9 de Junho | Sábado
EA – 14:00

10 de Junho | Domingo
XBOX – 16:00
Bethesda – 21:30
Devolver – 23:00

11 de Junho | Segunda
Square Enix – 13:00
Ubisoft – 16:00
PC Gaming Show – 19:00
Playstation – 21:00

12 de Junho | Terça
Nintendo – 12:00

 

Porém, há de se lembrar que a expectativa é irmã da decepção. Tais conferências ao longo dos anos já nos venderam propagandas muito mentirosas, seja por ingenuidade da empresa por prometer um jogo acima do que pode cumprir, ou mesmo em alguns casos, falta de caráter mesmo. Aproveitando esse clima de Copa, vou listar 5 dicas para não levar dribles dessas empresas, porque, afinal de contas, comprar jogos, em especial aqui no Brasil, é bem caro. Além do sentimento de decepção do jogo, há a perda financeira que talvez não tenha retorno. Essas dicas não valem apenas para E3, mas qualquer apresentação de um jogo novo, inclusive anúncios de outra mídia se você conseguir relacionar os itens abaixo a algo que lhe gere expectativa.

  1. Sempre espere por um downgrade

Downgrade é o nome utilizado pela perda de qualidade gráfica do jogo de uma apresentação para a outra, mais agravante é a queda para o produto final. Como falei anteriormente, realmente há empresas que acreditam que seu jogo rodará de um certo modo quando estiver terminado, porém na grande maioria dos casos os desenvolvedores acabam retirando da qualidade gráfica para manter a performance estável, para que o jogador consiga interagir com a fluidez correta. Gráficos servem para vender um jogo, mais que isso, vender o futuro, oferecendo possibilidades inéditas que um jogo pode ter em termo de imersão. A principal dica é: sempre que você vê algum jogo mais bonito, bem acima da média em relação aos outros, desconfie. Lembre-se que mostrar um jogo com trailer cinemático, é apenas apresentar seu conceito. Para realmente observar seu potencial, no mínimo é exigido trechos de gameplay.

Exemplos de downgrade mais notáveis: Watch Dogs, Dark Souls 2, Killzone 2, Alien Colonial Marines.

 

Downgrade do jogo Watch Dogs de 2012 para 2013.

 

  1. Saiba qual é a desenvolvedora/publicadora do jogo anunciado

Vamos relembrar a diferença entre os dois. Desenvolvedora é quem faz jogo, publicadora é quem financia o jogo, responsável pela distribuição, e quem fica com dinheiro das vendas. As grandes publicadoras que estão presentes na E3 possuem seus estúdios internos, outras são contratadas, ou para fazer um jogo específico ou para manter um vínculo por período, que envolve um ou mais títulos produzidos. As desenvolvedoras estão atreladas as franquias que trabalharam, o importante destacar nesse item é como as publicadoras “vendem” seus jogos, e vou falar do que esperar de duas em especial: EA (Eletronic Arts) e a Ubisoft.

A Eletronic Arts tem a imagem de vender jogos que forçam o jogador a continuar gastando seu dinheiro além de comprar o produto em si, não há como imaginar um jogo da EA sem microtransações. Os casos mais recentes, e emblemáticos, foram dos dois Star Wars Battlefront, jogos bonitos graficamente, fluidos em jogabilidade, porém com pouco conteúdo como produto final, personagens considerados básicos eram adquiridos fora a parte, causando grande polêmica. Uma das práticas mais comuns, diria até nojentas, que existem hoje em dia é o costume de lançar jogos inacabados e se aproveitar das atualizações para consertar os bugs e polir os gráficos.

 

Quando Mass Effect Andromeda foi lançado (2017), houve muitas reclamações de fãs por inúmeras falhas apresentadas, e as expressões faciais bizarras se tornaram símbolo da decepção que o jogo causou.

A Ubisoft é uma empresa que vem tentando melhorar sua imagem após o terrível ano de 2014, em que provocou decepção e irritação para quem consumiu seus produtos, em especial três jogos: Watch Dogs, The Crew e Assassin’s Creed Unity. A Ubisoft chegou a ser creditada como a nova EA naquele ano. Por motivos de tentar melhorar sua imagem e não ser comprado pelo conglomerado de mídia, Vivendi, ela buscou oferecer melhor seus jogos e seus serviços. Sua conferência de 2017 foi uma das melhores, como mostra mais evidente de uma tentativa de mudança. Só que apesar da melhora, uma de suas grandes marcas continua presente, pois a maioria de seus jogos seguem um padrão, o pejorativo termo Ubisoft The Game, que consistem em jogos de mundo aberto que contam com elementos repetitivos, que até passaram de suas fronteiras e estão presentes em títulos de outras empresas. A característica mais marcante desses jogos são as torres que quando o jogador chega ao topo revela uma parte do mapa. As mecânicas dos jogos da Ubisoft são transportadas de franquia para a outra, então se o jogador explorar o máximo que um título pode oferecer, a originalidade do próximo jogo fica mais dependente de enredo ou estética.

 

A franquia Assassin’s Creed foi responsável por introduzir as torres que revelam parte do mapa.

 

  1. Se está demorando para sair, desconfie

Esse pode ser relacionado ao downgrade, mas a frustração que causa no público vai além da questão gráfica. Quanto maior o tempo entre o início do desenvolvimento e o término do jogo, menos é garantido que a ideia inicial vai aparecer 100% no produto final. A demora de uma produção se deve a incertezas sobre uma ideia ser aplicável a jogabilidade, ao escopo, provocando um processo maior do que originalmente planejado. A necessidade de adiar um jogo causa uma queda de braço entre a desenvolvedora e publicadora, pois consiste em mais dinheiro investido, enquanto a entrada de lucro é adiada. A tecnologia evolui com muita velocidade, então uma equipe pode ser forçada a passar seu projeto para um novo motor gráfico, para o jogo continuar atualizado. Essas pequenas quebras de ritmo podem gerar desânimo por parte da equipe, sobretudo diminuir o interesse da publicadora em continuar financiando o jogo.

A publicadora também tende a impor algumas decisões que podem quebrar a criatividade das pessoas que realmente põem a mão na massa, em especial visando elementos seguros para garantir um número maior de vendas, dando pouco espaço para inovações. A demora do desenvolvimento não necessariamente oferece um jogo ruim, mas pode contrariar uma certa parcela do público que visava o que era prometido no começo. Dependendo do tempo de demora, o jogo entrega um conceito que não é tão mais bem digerido no momento que foi lançado, ou alguns aspectos bem mais caprichados que outros, que tiveram que ser apressados no final do processo.

Exemplos: The Last Guardian, Final Fantasy XV, Duke Nukem Forever.

 

Em Final Fantasy Versus XIII ela era Stella, quando se tornou Final Fantasy XV ela acabou se transformando em Lunafreya. O jogo foi anunciado em 2006, na E3 de 2013 mudou de nome e 2016 finalmente foi lançado.

 

  1. Sinta que está jogando o que está na tela

Logicamente esse item vale apenas para jogos que mostram sua gameplay, envolve a experiência do público como jogador, com a capacidade de observar o quão as mecânicas são coerentes, até a ponto de imaginar em qual botão se usaria tal comando mostrado. Um exemplo que vai na contramão disso foi a apresentação do Call Of Duty Infinite Warfare, que apareceu em 2016. Antes de iniciar o tiroteio no meio do espaço, há um cena de batalha de naves espaciais, que por mais que a câmera esteja em primeira pessoa e utilize os mesmos gráficos, a maneira que a nave se mexe perseguindo e atirando nas outras é humanamente impossível de se jogar.

 

Trecho do trailer de Call Of Duty: Infinite Warfare, no jogo final a jogabilidade da nave é mais lenta.

 

Na minha opinião, a melhor apresentação de um jogo foi a do Horizon Zero Dawn, em 2015. Começou mostrando o conceito de seu mundo e depois a jogabilidade. Durante seu tempo em tela foi possível observar as diferentes possibilidades de ação que a Aloy pode fazer, sua movimentação, sua forma de esquivar, os diferentes tipos de armas e, principalmente, os efeitos que causam no inimigo que ela estava enfrentando. Para quem estava assistindo ficou bastante claro o que era feito para atingir o objetivo proposto, os riscos e os feedbacks positivos de progressão na luta. Por mais que as pessoas tenham tido inúmeras perguntas sobre aquele mundo, de onde surgiram aquelas máquinas por exemplo, a certeza era a forma como o jogador poderia interagir naquele mundo. As incertezas na apresentação de Horizon cumpriam seu papel de instigar a curiosidade do público.

Outros exemplos de boa apresentação: Metal Gear Solid V: The Phantom Pain (2013), The Last Of Us (2012), Super Mario Odyssey (2017).

 

 

  1. Quem mede as expectativas é você

Claro que quem decide no fim das contas é quem assiste. Uma comparação muito certeira que ouvi nos últimos dias foi a que Eduardo Sushi do Jogabilidade fez ao relacionar a E3 ao carnaval. Pois em ambos você aproveita os dias, deixando a responsabilidade de lado, esquecendo naquele momento o que vai acontecer depois. A E3 realmente é um momento em que se entra no espírito de acreditar nas promessas de empresas que apenas querem seu dinheiro, e depois com mais calma se analisa o verdadeiro potencial dos jogos apresentados. Por mais que o produto final não atenda as expectativas, a reação sincera de empolgação a um grande anúncio provoca uma lembrança que nunca será apagada.

 

Reação dos membros da Game Trailers durante o anúncio de Shenmue III, durante a conferência da Sony de 2015.

 

Não importe se os outros falam que o jogo que você espera será ruim, se consegue enxergar as características que te agradam como jogador, se possui uma consistência que te permite acreditar na qualidade de seu produto final, não deixe de viver o momento, permita-se deixar a rigidez da vida cotidiana um pouco de lado. Lembre-se que cada um tem sua experiência particular, então, tendo a consciência tranquila, embarque no trem do hype.