Foto de capa: Bem Neale

O dia 26 de julho ficou marcado nos corações e mentes de quem participou do 1º OverRaid, um evento que teve como principal premissa a conectividade entre protagonistas, entusiastas e empreendedores do setor de jogos eletrônicos do estado. O evento contou com a apresentação de novos títulos, obras em desenvolvimento, mic-checks, uma mesa redonda com diversos protagonistas do cenário local, entrevistas, comidas, bebidas e, é claro, jogatinas.

Com um público que superou a lista de inscrições, o evento foi a evidência de que há demanda para políticas públicas voltadas à área, assim como a criação de um ecossistema que considere as demandas dos profissionais que atuam nesta temática. Sem sombra de dúvidas o evento de cunho profissional acabou entrando para a agenda geek/profissional em grande estilo.

Não é a primeira vez que uma iniciativa como esta ocorre em Manaus. No início desta década, profissionais envolvidos com o desenvolvimento de games, independentes e vanguardistas com sonhos em seus corações e mentes – que já dominavam tecnologias que à época eram consideradas emergentes para nosso mercado local – buscaram unir a comunidade em eventos semelhantes.

Infelizmente, ao que parece os horizontes ainda não estavam tão ampliados como hoje e visões de profissionais brilhantes tiveram de ser abandonadas, suas empreitadas criativas guardadas na gaveta, e para alguns até esquecidas mesmo, se considerarmos as circunstâncias de empregabilidade e custo de vida locais.

Ocorre que, ao que parece, são novos tempos, e o que pudemos testemunhar na primeira edição do evento INDEPENDENTE OverRaid pode muito bem ser o advento de uma comunidade inclusiva, aberta, orgânica e acima de tudo: sem ser propriedade de ninguém. Como a sonhada por nossa vanguarda.

Uma longa estrada nos trouxe até aqui

Nos últimos anos testemunhamos diversas oportunidades de aquisição de recursos por meio de chamadas públicas governamentais, por intermédio da Ancine, com recursos oriundos do BNDES, e muitas excelentes desenvolvedoras obtiveram êxito em suas submissões e conseguiram dar início aos seus projetos ou concluí-los em sua totalidade, a exemplo do promissor jogo Araní, encabeçado pela Diorama Digital.

Os recursos do Programa Prioritário de Economia Digital (PPED) apenas eram acessíveis por meio de termos de cooperação técnica, editais e convênios com institutos e centros de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I). Entretanto, uma vez contemplado por uma oportunidade como essa, o empreendedor passa a estar sujeito às regras, orientações e gestão de cada instituição, deixando em xeque a autonomia de um estúdio ou coletivo proponente.

Curiosamente, no mesmo dia de realização da primeira edição do OverRaid (26/07), segundo o portal do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (CIEAM), a Superintendência da Zona Franca de Manaus – Suframa apresentou, durante o Seminário de PD&I, quatro programas prioritários para otimizar os recursos advindos da Lei de Informática (Lei 8.387/91), estimados em R$ 600 milhões na região de abrangência da Suframa (Amazonas, Acre, Amapá, Rondônia e Roraima). Os recursos podem financiar um polo digital para o Amazonas. […] Agora, empresas dentro da Lei de Informática também poderão investir diretamente em startups, fundos de investimentos e aceleradoras, ademais dos convênios com instituições. 

Basicamente os proponentes terão autonomia para dialogar diretamente com empresas dentro da Lei de Informática e, por quê não, com a própria Suframa, em seus próprios termos, exercendo sua livre expressão, gestão e responsabilidade jurídica perante as condições firmadas.

É perigoso ir sozinho

Embora soe como um grande grito de independência, é necessário, antes, um trabalho de base com os desenvolvedores e empreendedores que querem se aventurar nessas águas até então exploradas apenas pelo “grande estúdio” e por ícones inspiradores do desenvolvimento independente local, como A Flying SaciDreamkid Ludic Studios.

É crucial que a comunidade se integre e se empodere dos aspectos legais e jurídicos inerentes à Lei da Informática e aos recursos de PD&I do PPED e, ainda que esta pareça ser uma jornada com um chefão maceta que vai nos detonar na primeira porrada, lhes trago boas novas: a OAB Amazonas já conta com sua própria Comissão de Startups e Inovação desde 2018, e Manaus já conta com escritórios jurídicos locais com um extenso e crescente conhecimento a respeito das questões relativas ao PPED e Lei da Informática.

O que me leva ao outro ponto…

No frigir dos ovos… Independência sim.

Dado nosso contexto atual, em que tantos atores por todos os lados começam a compreender que inovação não é apenas Uber disso ou “Face” daquilo, faz total sentido vocês, camaradas desenvolvedoras e desenvolvedores, designers, game designers, escritoras e escritores, músicas e músicos, artistas, ilustradoras e ilustradores, profissionais de gestão, marketing, finanças, comunicação e áreas diversas correlatas, considerem integrar a promissora área de desenvolvimento de jogos eletrônicos.

Certamente ainda há muito o que trilhar e a primeira parada é consolidar a voz daqueles gamedevs e profissionais amazonenses da área em uníssono. É chegada a hora da criação de um grupo de trabalho voltado para essa temática, com interfaces políticas e empresariais. É nosso papel nos apropriarmos de cada nova informação que nos afete diretamente, indo para além dos editais e oportunidades que trazem chances de beneficiar nossos estúdios. Falo de notícias relacionadas à indústria e ao desenvolvimento econômico da região.

Por mais incômodas que as questões de representatividade política e formal possam nos parecer enquanto comunidade estereotipadamente “alternativa”, é preciso compreendermos que, somente assim, vamos conseguir mostrar para aqueles que tomam as decisões o quão importante nossa força de trabalho é para o desenvolvimento de um Pólo Digital verdadeiramente atento às demandas de mercado locais e globais.

Uma vez que, segundo as palavras do próprio coordenador geral de Tecnologias Inovadoras e Propriedade Intelectual da Secretaria Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade (Sepec), representando o Ministério da Economia no Seminário do PD&I do último dia 26:  “Ao longo do tempo, notamos pouca coisa no mercado fruto das verbas de P&D.

Esta publicação foi enviada por um leitor.
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